Dia Nacional de Advertência aos Planos de Saúde reuniu centenas de profissionais na Avenida Paulista, em São Paulo
Cerca de 500 cirurgiões-dentistas e médicos participaram, na última quarta-feira (25), da passeata que marcou o Dia Nacional de Advertência aos Planos de Saúde. Os profissionais protestaram contra a baixa remuneração oferecida pelas operadoras e por interferências indevidas das empresas em indicações de tratamento.
“Precisamos chamar a atenção da população para o problema. O que os planos pagam, em grande parte dos casos não cobre os custos. Em nenhum procedimento o valor é justo”, disse o presidente do CROSP, Dr. Emil Adib Razuk. Ele sugere que, nessas condições, os cirurgiões-dentistas não se credenciem aos convênios.
Já há algum tempo o CROSP entregou documento ao representante das operadoras onde solicita: Definição de reajuste imediato nos valores praticados pelas operadoras, instituição de data-base anual, redução no número de glosas administrativas e cumprimento da Portaria CFO 102/2010 que proíbe o uso indiscriminado de raios-X. “Também queremos que seja instituído um mecanismo que permita a participação dos cirurgiões-dentistas nos lucros das empresas”, finalizou o presidente do CROSP.
Ao final da manifestação, os profissionais se dirigiram ao Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, onde estavam montadas tendas de atendimento e prestação de serviço à população. No local foram realizadas ações de esclarecimento e prevenção do câncer bucal.
Veja abaixo a nota oficial do CROSP distribuída para a imprensa.
Nota Oficial
Em um país com as características do Brasil, onde grande parcela da população não tem acesso ao tratamento dentário, a odontologia suplementar se tornou uma das opções de assistência para milhões de brasileiros. Diante disso, se bem conduzido esse fenômeno poderia servir para expandir a assistência, conscientizar a população sobre a importância da saúde bucal e ser uma alternativa profissional para os cirurgiões-dentistas. Na prática, infelizmente, a situação é bem diferente.
Existe um problema fundamental nessa modalidade de tratamento: a insatisfação generalizada dos cirurgiões-dentistas com os seus rendimentos. Em muitos casos, eles recebem menos de R$ 10,00 por consulta. Uma extração, que é uma pequena cirurgia, é remunerada a R$ 15,00. O valor médio para uma consulta seria de R$ 70,00, segundo recomendação das entidades de classe. Ou seja, os convênios sobrevivem pagando aos seus colaboradores cerca de 7 vezes menos do que eles merecem.
Por outro lado, em 11 anos os planos odontológicos cresceram mais de 480%. Saltaram de 2,7 milhões de usuários em 2000 para 16 milhões no ano passado. Seu faturamento em 2010 foi de R$ 1.671.930.882 (Um Bilhão, seiscentos e setenta e um milhões, novecentos e trinta mil e oitocentos e oitenta e dois reais).
Dos R$ 1,6 bi faturados em 2010, as empresas empregaram em “procedimentos odontológicos”, que é de onde vem a remuneração do cirurgião-dentista, R$ 627milhões; ou menos de 40%. É bom lembrar que os planos não têm gastos com material odontológico e manutenção (aluguel, impostos, equipamentos, etc) de serviços de saúde. Tudo isso, além do trabalho, fica por conta do profissional credenciado.
Infelizmente as operadoras de planos odontológicos construíram um modelo de negócios predatório, que cresceu e se mantém por conta da exploração da sua principal mão-de-obra, que é altamente qualificada. Está claro que essa estrutura é frágil e coloca em risco todo o sistema. A cada dia, por conta da evasão de profissionais descontentes (e todos estão), os usuários dos convênios têm sua liberdade de escolha mais restrita, ou seja, fica mais difícil realizar o tratamento com o cirurgião-dentista da sua preferência. E esse problema só vai piorar.
Da mesma maneira, a própria sobrevivência das operadoras está em risco. Nenhum negócio prospera por muito tempo quando as pessoas responsáveis pela principal engrenagem da operação estão insatisfeitas. Os executivos de boa-fé das empresas – e seus investidores, pois algumas têm ações na bolsa – deveriam pensar nisso e resolver o problema, senão por justiça, pelo menos por conveniência.
É urgente que a remuneração oferecida pelos convênios aos profissionais seja multiplicada. O ideal é criar um mecanismo que permita aos cirurgiões-dentistas participar dos lucros. Caso contrário, a situação vai se tornar insustentável, a Odontologia suplementar vai entrar em colapso e os maiores prejudicados serão os 16 milhões de usuários que, do dia para a noite e independente da quantia que já gastaram com mensalidades, terão a assistência prejudicada.
Emil Adib Razuk
Presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
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