Projeto de lei prevê dentistas em UTIs


Foi aprovado dia 19.04 por unanimidade no Congresso o Projeto de Lei 2776/08, que torna obrigatória a presença de cirurgiões-dentistas nas UTIs. A vitória é para os pacientes internados, que, muitas vezes, têm suas doenças agravadas em decorrência de más
dentistas na UTI
condições orais. Estudos comprovam que a higiene bucal deficiente em pacientes hospitalizados, em especial os internados em UTIs, pode agravar o quadro clínico, ocasionar outras infecções, especialmente as respiratórias, e contribuir para o óbito do doente. A pneumonia hospitalar (infecção nosocomial), que se instala após 48 horas da internação do paciente, é responsável por 10% a 15% de todas as infecções adquiridas em hospitais e de 20% a 50% dos óbitos dos pacientes que a contraem.

Alguns hospitais já contam com esse profissional contratado. Um dos pioneiros nesse procedimento é a Santa Casa de Barretos, que há oito anos mantém esse profissional atuando em UTI, sob a coordenação da Dra. Teresa Márcia de Morais, presidente do Departamento de Odontologia da AMIB e uma das defensoras do Projeto de Lei. Segundo ela, o obstáculo mais enfrenta­do pelo cirurgião-dentista para integrar essas equipes é a baixa prioridade do procedimento odontológico diante dos numero­sos problemas apresentados pelo paciente.
“Com o constante surgimento de evidências científicas que respaldam o papel nocivo dos comprometimentos e das infecções dentárias e bucais para a degradação do estado geral dos pacientes alocados nas UTIs, a odontologia passa a dividir responsabilidades, com outros integrantes das equipes de saúde – especialmente nas questões referentes ao controle das infecções e da melhor oferta de conforto a esses pacientes”, salienta Dra. Teresa Márcia.
RECURSOS ESPECIAIS
Um estudo recente pode contribuir para ampliar os cuidados bucais de pacientes internados e representar uma enorme economia para os hospitais. Pesquisadores clínicos e membros do Departamento de Farmácia da Faculdade de Odontologia da USP realizaram testes que comprovam que as escovas de dente, escovas interdentais e raspadores de língua da empresa sueca TePe, representada no Brasil pela FNL, podem ser submetidos à esterilização em autoclave sem danos mecânicos ou à eficácia dos produtos.
Essas investigações podem significar uma nova fase no controle das infecções hospitalares e contribuírem para a redução dos riscos de infecção hospitalar pela via oral – facilitando o incremento dos protocolos de higiene nas UTI´s – afirma o Dr. Rodrigo G Bueno de Moraes, membro da American Academy of Periodontology e docente do curso de especialização em periodontia da ABENO/Nap Odonto.
Segundo Maria Helena Leite, diretora da FNL, o resultado chancela o que a matriz da empresa já havia garantido e abre perspectivas para a melhoria da saúde bucal em hospitais – uma vez que permite aprimorar o controle da reinfecção dos pacientes hospitalizados por microorganismos remanescentes das suas próprias escovas dentárias. A TePe produz uma linha especial de escovas dentais ultra macias, especiais para uso por pacientes internados em UTIs ou submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia.
Prestadora de serviços odontológicos no setor de oncologia e UTI do Hospital Santa Catarina (SP), a Dra. Cristina Zardetto é colaboradora do Protocolo de Prevenção de PAV (Pneumonia Associada à Ventilação) mecânica, projeto iniciado há um ano, e no qual uma das recomendações é a melhoria da higiene oral. Especificamente nos cuidados orais foram introduzidos novos materiais para a higiene bucal de paciente entubados ou traqueostomizados. Antes a limpeza era feita com uma haste dotada na extremidade com um tipo de esponja molhada em colutório, que corria risco de ser mordida ou se soltar e ser engolida pelo paciente. Hoje é feita com escovas TePe especiais.
ALTOS CUSTOS
Os doutores Luiz Claudio Borges Silva de Oliveira, professor assistente de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo (RJ) e Ricardo Guimarães Fischer, diretor do Instituto de Odontologia da PUC-RJ, calculam que a pneumonia nosocomial (que se instala no mínimo após 48 horas da internação do paciente) é responsável por 10% a 15% de todas as infecções adquiridas em hospitais e de 20% a 50% dos óbitos dos pacientes que a contraem. Segundo eles, estimativas indicam que nos EUA ocorrem mais de 300 mil infecções respiratórias hospitalares a cada ano, resultando em 20 mil mortes e gastos aproximados de US$ 2 bilhões em cuidados hospitalares. A doença também aumenta os custos hospitalares uma vez que prorroga, em média, de 10 a 13 dias a estada hospitalar de pacientes entubados. Estima-se que cada paciente com pneumonia em UTI tem o custo aumentado em mais de R$7.000,00, valor que, se pago a um único dentista, poderia garantir os cuidados necessários a dez doentes.

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